O exercício físico é fundamental para a saúde física e psicológica. E, porque não, ao bem estar estético.
Porém, quando interfere no dia a dia da pessoa, quando há uma relação obsessiva com o desenvolvimento muscular, estamos diante de um quadro que surgiu na década de 80 e que foi pesquisado em 90 pelo psiquiatra americano Harrison Pope.
É diagnosticado quando as pessoas, em sua maioria homens, estão obsessivamente preocupadas com seu corpo e desenvolvimento muscular.
Caracteriza-se por:
- Passar horas por dia fazendo exercícios (musculação)
- Relação obsessiva com alimentação, especialmente com a quantidade de proteínas ingeridas. Abuso de suplementos nutricionais, anabolizantes, hormônio do crescimento, etc.
- Prejuízo das atividades sociais e profissionais. Começam a abandonar atividades para fazerem exercícios. Alguns faltam ou abandonam o trabalho. (H. 24 anos, engenheiro, recusou ótimo emprego, pois não poderia ir à academia duas vezes ao dia)
- Fazem exercícios mesmo machucados, cansados ou doentes. A irracionalidade e o caráter compulsivo são ilustrados por dois pacientes médicos, portadores da síndrome. C 40 anos, médico “sei que não está correto, mas não consigo. Quando machucado tomo antiinflamatórios e analgésicos. Parar é pior do que as conseqüências”. (M. L. 32 médica: ”quando estou cansada tomo derivados de anfetamina para poder continuar. Não é correto, mas você não imagina a culpa de não fazer”)
- Sentem-se culpados quando não fazem exercícios ou deixam de trabalhar um grupo muscular. (C. “se programo fazer 1 000 abdominais e só faço 999 acho que meu dia foi perdido, que estou perdendo a forma e não durmo direito”).
- O exercício obedece a um ritual para cada individuo tipo esteira, bicicleta, musculação.
- São constantes as checadas ao espelho e o subir na balança. (J.R. 27, empresário. “quando vou à praia faço 200 flexões de peito e depois olho no espelho. Se a musculatura peitoral não está legal, não exponho meu corpo”)
- Alguns, mesmo muito fortes, escondem o próprio corpo por vergonha.
As causas ainda não são claras, mas há indícios de ação conjunta de predisposição biológica, sentimentos de inferioridade e influencias culturais. Pope supõe que 1 milhão de pessoas que freqüentam academias nos EUA (de um total de 9 milhões) apresenta o quadro.
Acomete principalmente homens, mas também está presente em mulheres e a faixa de maior incidência situa-se entre os 30 e 45 anos, embora presente antes e depois desta faixa. É freqüente em homens de baixa estatura e seria segundo Pope, um mecanismo de compensação.
Há grande semelhança com o TOC e com os Transtornos Alimentares. A semelhança entre “vigorexia” e “anorexia” não é mera coincidência. A anoréxica tem obsessão pela magreza e o vigoréxico pelo desenvolvimento muscular e ambos sofrem de alterações na auto-imagem.
Tais pacientes são encontrados nas academias e nos clubes, preferencialmente.
Os prejuízos são de toda ordem: físicos, sociais, psicológicos, profissionais. Lesões articulares e musculares, distúrbios hormonais, insônia, alterações de humor, ansiedade e depressão, entre outros, podendo haver, inclusive, comprometimento cardíaco, além de permanente insatisfação. Seu lema é “mais é melhor”.
O tratamento complica-se na medida em que tais pacientes não se acham doentes, mas sim “fracos”. Habitualmente procuram tratamento por outras condições, como ansiedade, depressão ou pânico. O trabalho psicológico é através da Psicoterapia..