O índice de “sucesso” no tratamento da obesidade ainda é muito pequeno. O tratamento sofistica-se, torna-se cada vez mais interdisciplinar e a psicologia vem participando ativamente da tentativa de recuperação.
Como atua a Psicologia no tratamento da obesidade ?
Antes de qualquer coisa, a pessoa gorda sofre todo tipo de discriminação social e pessoal. A criança gorda recebe apelidos de toda ordem, vira ponto de referência de toda uma série de piadas e sua auto-estima acaba bastante comprometida. Pode inibir-se socialmente , apresentar dificuldade de comportamento interpessoal , diminuição da autoconfiança , desenvolvendo uma série de estratégias de sobrevivência que tem como característica comum a evitação . Evitação de contatos mais autênticos, de práticas esportivas, , de toda uma série de prazeres que farão com que a comida, mais do que UM prazer, se torne O PRAZER…
Nascem daí os “gordinhos engraçados” , a “gordinha confidente” , “a gordinha amiga” , todos frutos de uma desesperada de sobrevivência social. Em síntese, o gordo tem de enfrentar de cara a rejeição por ser ou ter-se tornado gordo, como se fosse culpa dele…Alguns se tornam fóbicos sociais, outros fóbicos e deprimidos.
Nesta altura das coisas não faz mais sentido perguntar o que veio antes, o ovo ou a galinha…o gordo é ansioso porque é gordo ou é gordo porque é ansioso ? Efetivamente, desenvolveu um quadro de ansiedade ! Primário ou secundário ? Na prática ele sofre e precisa ser tratado…
O comportamento alimentar sofreu alterações. Na maioria das vezes passou por inúmeros tratamentos e sabe o que fazer embora não consiga… O processo não é só lógico… Meninas vão ao outro extremo e , numa tentativa desesperada de emagrecimento, vulnerabilizam-se para os transtornos alimentares.
Trabalhar o comportamento alimentar, aquele que é mais “primitivo”,e que,”domesticado”, permite a consecução do comportamento nutricional,mais lógico e elaborado, cientificamente fundamentado, seria o objetivo da psicologia.
Para tanto é necessário desvincular a ansiedade e outros fatores emocionais do ato de comer, trazer o comportamento alimentar para os estímulos internos da fome e restringir todos os outros que a ele se associaram na história de vida da pessoa e que se tornaram desencadeantes. Trabalhar as habilidades sociais atrofiadas durante a vida e que ajudaram a desenvolver a “novela de dois personagens” : “ a comida e eu” que muitos gordos protagonizam. Indispensável trabalhar a ansiedade , na maioria das vezes causa e efeito, simultaneamente , do ato de comer desadaptativo. Identificar a existência da compulsão alimentar, grande vilão das reorientações alimentares, onde a pessoa narra uma “urgência irresistível” para comer . Trabalhar, enfim, as dificuldades da pessoa que não são “solucionáveis” pela comida. Levar o paciente à resgatar o binômio fome-saciedade , sem esquecer que por traz da obesidade e do sobrepeso podem existir ganhos secundários que impedem o emagrecimento. È fundamental o incentivo a novas formas de gratificação e prazer para que o alimento seja um prazer, mas não O PRAZER.
Sintetizando, levar-lhe a assumir que, não se modifica peso de forma permanente se não se modificar comportamento e que , mais do que fazer uma dieta para perder algum peso por algum tempo, deverá estabelecer todo um programa a longo prazo!