Quanto mais precoce o inicio da engorda na vida da pessoa, maiores são as adaptações necessárias para sobrevivência social, profissional, afetiva.
Apelidos, bulling, discriminação, preconceito, exclusão, fazem com que, para ser aceito
se valha de estratégias de sobrevivência. Habitualmente cria um personagem fictício: o “gordinho feliz”. Engraçado, bonzinho, permissivo, amigão, bom de papo, cordato, que o permite conviver com uma série de crenças distorcidas e preconceituosas a respeito do perfil psicológico do gordo e que o desqualificam em termos de inclusão social.
Na aparência um ótimo sujeito que faz piadas com tudo, principalmente consigo próprio. No fundo, tristonho, ressentido com as pessoas que diverte, com raiva de sua impotência e submissão.
Essa adaptação acaba se moldando à sua personalidade e mina sua autoestima.
Emagrecendo, o peso se modifica antes que a cabeça. Perde a gordura como defesa. Como é viver sem ela? Emagreceu, e daí? Está preparado para assumir papéis antes ignorados? Para novas responsabilidades? Para ser protagonista e não mais coadjuvante? Para lidar com o estigma que ainda persiste? Sabe “estar magro”?
A reintegração do “gordo emagrecido”, o resgate de sua autoestima é aspecto fundamental do trabalho psicológico no tratamento da obesidade. Negligenciá-lo é correr sérios riscos de voltar a usar a gordura como escudo.