Dia seguinte à Páscoa cliente declara: “estou em depressão pós Páscoa”! Procuro me interar do “diagnóstico”. Tudo corria bem em sua reeducação nutricional. A comilança começou na quinta feira, em um happy hour no trabalho. Aí, sua cabeça processou o famoso “perdido por um…”Na sexta, almoço com amigos, onde, em função do abuso do dia anterior, exagerou na comida e na (nas) sobremesas. Apesar da culpa, acionou outro mecanismo falso e típico da cabeça gorda: O “Já que…” “Já que eu comi ontem…”E os primeiros ovos são degustados, num misto de culpa e ansiedade em círculos viciosos, que a levaram a comer mais. Domingo, almoço em família, cada um leva um prato e uma sobremesa, das quais a paciente se serviu de todas, complementando a comilança pelos ovos que ganhou. Um olho na comida, outro na balança, a algoz de amanhã…
Houvera sido orientada pela nutricionista: pequenos pedaços de chocolate amargo, um só prato NO ALMOÇO DE DOMINGO, uma única sobremesa.
Mas…cabeça gorda…Chocolate amargo, sem ser amargo, crocante, branco, diet, light, pudim, sorvete, colomba pascal etc…Sempre acompanhada do “perdido por um…” e pelo “Já que…”Pior, segunda feira, deu conta do chocolate que sobrou…E muita, mas muita angustia…
Culpa, raiva, desânimo, tristeza, irritabilidade, evitação social, ausência da academia, percepção errônea da própria imagem ao espelho, tentativa de jogar tudo para os ares. Autoestima zero, “não vou mais à nutricionista”, “não nasci para ser magra”, e uma sensação de falta de controle sobre a alimentação, acompanhada de uma “sensação de nunca mais…” Um autêntico tsuname psicológico. E prejuízo no funcionamento global dela, como pessoa.
Se você apresenta quadro parecido, a tal “depressão pós Páscoa” da minha amiga, pense nisso.
A primeira medida é congelar a comilança, voltando imediatamente para os padrões nutricionais anteriores, sem atenuantes nem concessões. Lembre-se, caiu? Levanta! Errou? Corrige!
Que tal, depois, avaliar o processo psicológico subjacente? Que emoções, sentimentos, fugas, substituições essa conduta propicia? É prazer? Se for, que outros prazeres podem estar substituindo? Atua como ansiolítico? Antidepressivo? Quais as outras alternativas? A ajuda psicológica pode ser fundamental.