Emoções são estratégias de sobrevivência, originárias no processo evolutivo. Em nosso passado arcaico, decidiam entre a vida e a morte, funcionando como radares que detectavam perigo e nos colocavam em alerta, possibilitando sucesso reprodutivo e transmissão de genes.
Tornaram-se automáticas e gravadas em nosso cérebro na medida em que, ao longo de milhares de gerações, foram repetidamente eficazes para nossa sobrevivência ao enfrentar situações problema, como predadores, invasões tribais e outras.
A evolução cultural se deu em velocidade muito maior que a física e praticamente utilizamos as mesmas ferramentas biológicas de nossos ancestrais do tempo das cavernas. Nossa estrutura emocional é a que nos melhor funcionou nos últimos milhões de anos e não nos últimos milhares. Reagimos emocionalmente muito mais com nosso passado ancestral longínquo que à realidade presente.
As emoções nos mobilizam para a ação imediata. São impulsos para agir instantaneamente, para fazer frente às ameaças a vida. No medo, por exemplo, o corpo se prepara para lutar ou fugir e debelar o perigo.
Essa tendência biológica para a ação e preservação é modulada por nossa experiência e pela cultura. Em condições normais, os sentimentos são mediados pela lógica, pelo raciocínio.
Num modelo explicativo, a mente poderia ser descrita como composta por dois computadores: um racional (que pensa, avalia, pondera) e um emocional (que sente). A mente racional leva em consideração um grande número de variáveis, sendo muito precisa, mas lenta em seu processamento. Lenta o suficiente para comprometer a vida em uma situação de sobrevivência.
Em nosso passado evolutivo, parar para pensar poderia significar morrer. Aí entra em ação a mente emocional. Um computador muito rápido, impreciso, que faz rápida varredura e compara velozmente a situação com seus arquivos de perigo e induz à ação imediatamente. Qualquer estímulo vagamente semelhante a seus registros de perigo promove uma resposta. Respondemos hoje com os estímulos de ontem.
Estas duas mentes trabalham (ou deveriam) trabalhar em conjunto, em perfeita sintonia. A mente racional deveria filtrar adequadamente os impulsos da mente emocional, dimensionando a ação, o que nem sempre ocorre, especialmente em situações limite. Quanto mais intenso é um sentimento, maior a dominância da mente emocional. Que o digam nossas paixões…
Por isso somos surpreendidos por nossas reações para depois, num momento de reflexão perguntar: “porque fiz isso?”.
Se as emoções forem excessivamente vigiadas poderemos, inclusive, adoecer. Se forem expressas “in natura” podem nos deixar a margem da sociedade. Entre a doença e a exclusão social, exige-se um ponto de equilíbrio: o controle emocional, a submissão das emoções à razão, via autoconhecimento e adiamento da gratificação. Mas controle emocional e repressão das emoções são coisas muito distintas.