Depoimento 1

“ Acho que todos deveriam pensar bem antes de chamar alguém de “gorda” !
Tenho pavor desta palavra ! Era gordinha em pequena e motivo de gozação desde os tempos do primário. Gorda, baleia, rinoceronte ! Tinha poucas amigas e vivia triste e deprimida! No início da adolescência começava dietas de todos os tipos, crendices e o que mais me ensinavam para emagrecer. Tudo em vão ! Em algum momento, ia tudo por água abaixo ! Os apelidos ? Bem, esses continuavam ! Minhas colegas namoravam, eu não ! Faziam ginástica, eu não ! Eram queridas, eu não ! Iam em festas, eu não ! O pior é que eu achava que ia ficar sozinha e me apaixonava por cada cara que eu conhecia ! Minha carência era enorme e eu comia ! Acreditava piamente que se emagrecesse iria salvar minha vida! Numa briga com um namorado ou o que eu achava que fosse um namorado entrei em depressão e fui parar num hospital psiquiátrico! Sonoterapia e eu, com 17 anos e tantos remédios, engordei ainda mais ! Meu aniversário de 18 anos foi passado em outra internação ! Maravilha!…” Tentara o suicídio por duas vezes. Antes disso viciara-me em todas as bolas para emagrecer, hormônios de tiróide, laxante, diuréticos, etc que vocês possam imaginar”.” Queria ser aceita por todo o mundo e aí aprendi a vomitar”. Nada adiantava e eu tentei me matar de novo, ingerindo um monte de comprimidos para emagrecer”. Fui descoberta a tempo, desacordada, me levaram para um hospital e salvaram-me a vida. Enfrentei mais uma dieta e emagreci. Alias, emagrecer era a minha especialidade. Cortava a dieta pela metade, dobrava os medicamentos que o médico prescrevia, acrescentava outros. Pesava-me várias vezes ao dia, só falava em dieta, sabia todos os valores calóricos de qualquer alimento que você me perguntasse. Medo, muito medo de engordar! Quando um pouco mais magra eu comecei a fazer exercícios físicos ! Fazia para valer, 7 vezes por semana, duas vezes ao dia. Andava, corria, pedalava, emagrecia, vomitava, jejuava e continuava me achando um monstro! Eram pelancas, desamor, todas eram lindas, eu feia, e me detestava. Fazia psicanálise e tive de ouvir como única frase de um idiota que nada dizia em meses de “tratamento” que eu “era fixada na fase oral”…O desgraçado não sabia o que era bulimia !… Meus namoros ? Caóticos ! Eu usava e abusava de todo e qualquer medicamento que você me falasse que “era bom para emagrecer”. Meu último fora foi de um namorado que me disse uma coisa estranha : que eu deveria tratar com alguém que fosse especialista em transtornos alimentares ! Até então eu apenas me achava gorda !!”
“Através de uma modelo que eu conhecera em uma viagem e que tinha o problema, fui levada a este especialista. Convenci-me que se tratava de uma doença quando a menina, do alto de uma beleza que eu jamais vira pessoalmente, me disse que “também se achava horrível e gorda, que punha o dedo na garganta, pensara em se matar etc, e que fazia tratamento e encontrava-se bem melhor. Se aquele mulherão se achava feia, então só podia ser doença mesmo…Passei a consultar-me e conheci uma outra modalidade de psicoterapia, onde o terapeuta comporta-se como ser humano e não como divindade,e com alguém que conhecia o problema. Quando me falava do quadro parecia que se referia a mim ! Muito diferente da “fixação na fase oral”. Estou me tratando há um ano e meio. Os ataques de comer diminuiram bastante e encontro-me com peso estável. Ainda tenho medo de comer, mas já algum tempo não vomito. Voltei à vida social e namoro com um cara legal. Sei que faço exercícios com algum exagero, sinto-me culpada quando não os faço, mas já estou bem melhor do que antes. Estou trocando a idéia de corpo ideal por “corpo viável”, adequado ao meu biótipo. É fácil ? Não ! Mas é possível ! Sei que vou conseguir. Mas você, que gosta de por apelidos nos outros, cuidado ! Você pode estar matando alguém sem saber !”
“E você, que tem o problema, lute ! Vale a pena ! Volte a viver !” M.C. 23 anos.

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Dr. Marco Tommaso

O Marco Tommaso é um psicólogo e psicoterapeuta que trata pacientes com uma abordagem humanizada, enxergando, antes do diagnóstico, uma pessoa com sonhos, medos, desejos e anseios.

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