Medo pode ser considerado uma reação a uma ameaça. Um legado do processo evolutivo que confere proteção e nos permite evitar o perigo com valor óbvio na sobrevivência, ocorrendo diante de ameaças concretas.
A ansiedade pode ser definida como uma emoção subjetiva, voltada para o futuro, (como uma tentativa de preencher o intervalo de tempo entre o momento presente e o futuro), semelhante à sensação de medo, com manifestações físicas (taquicardia, respiração mais rápida, sensação de sufocação, tremores, sudorese, ondas de frio ou calor, contração muscular etc), psíquicas (apreensão, expectativa, insegurança, inquietação, sentimento desagradável de que algo está para ocorrer, etc) e comportamentais (evitação ou fuga da situação que provoca a ansiedade).
É considerada “normal” ou “positiva” quando leva à ação adequada, como estudar para uma prova ou preparar-se com antecedência para uma palestra. É negativa quando leva ao desespero, a não conseguir fazer a prova nem estudar para a mesma, evitando-a ou tendo “branco”. Ou, de outra forma, é positiva quando interfere favoravelmente no desempenho e negativa quando o prejudica.
Quando desproporcional ao grau de ameaça da situação, exacerbada em sua manifestação em intensidade ou duração estamos diante de um transtorno de ansiedade. Transtorno de Pânico, Fobia Social, Ansiedade Generalizada, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Stress pós Traumático são alguns destes transtornos.
Do ponto de vista fisiológico ocorre ativação do sistema nervoso autônomo que nos predispõe a lutar ou fugir, como faziam nossos ancestrais diante de um predador, de uma invasão tribal, de intempéries. Para isso todo o corpo é ativado pela mensagem de perigo enviada pelo cérebro. Mobilizados por descarga de adrenalina, corpo e mente se preparam para um instante de força máxima, como se a vida, efetivamente, estivesse em jogo.
A raiva, reação de defesa do organismo contra situações de frustração, também apresenta alterações físicas e psíquicas semelhantes da ansiedade. Observemos que um animal ao expressar hostilidade (dos mamíferos em diante, incluindo o homem) cerra os maxilares.No homem a raiva pode ter um caráter de ruminação e retaliação que a torna uma das emoções mais difíceis de controlar.
Entre as reações físicas do medo, ansiedade e raiva, temos a contração muscular visando dotar o animal de força máxima. Afinal irá lutar ou fugir e precisará de energia total. Quando a reação de luta e fuga é finalizada (quando nos safamos de uma situação de perigo concreta) o organismo se restabelece prontamente e volta a seu equilíbrio. Ocorre que na ansiedade não há ameaça concreta, mas a avaliação errônea de perigo que habitualmente não se resolve lutando ou fugindo. É o medo interiorizado que permanece cronicamente em nós. Então as conseqüências físicas e psicológicas se perpetuam, levando o organismo a sérios prejuízos.
A contração muscular cronicamente mantida leva a problemas diversos como mialgias, dores na nuca, pescoço, lombalgias, cefaléia e outros. É o stress desencadeando patologias. É o adoecer como forma inadequada de manifestar emoções. Do ponto de vista odontológico há a possibilidade desta contração muscular, via ansiedade e raiva, levar à pressão indevida do maxilar, ocorrendo o bruxismo e as dores musculares em face e na região da ATM.
Quando presente um mal que tenha a ansiedade como componente ou desencadeante, é fundamental que, ao lado do indispensável tratamento clínico, se faça a correção psicoterápica, ou o fator ansiógeno continuará desencadear os mesmos efeitos. É assim nas fibromialgias, nas úlceras gástricas, na obesidade, nos transtornos alimentares e NO BRUXISMO.
Muitas vezes a ansiedade é reprimida não aparecendo em nível de consciência. Mas o sistema nervoso autônomo permanece ativado. Em outras palavras, a pessoa não tem consciência da ansiedade embora sofra os efeitos da mesma. Nestes casos, é muito comum que o cirurgião-dentista seja o primeiro a constatar e a diagnosticar o quadro, via desgaste dos dentes provocados pelo ranger noturno. Se o bruxismo estiver presente e acompanhado de quadro de ansiedade clínica ou sub clínica e esta não for devidamente trabalhada, qualquer tratamento será paliativo na medida em que os fatores desencadeantes permanecem intactos.
Estudos controlados mostram a eficácia da Psicoterapia Comportamental e Cognitiva nos quadros de ansiedade, bem como a elevada correlação entre estados ansiosos e emocionais negativos e bruxismo.