“Sempre me achei gorda e buscava uma maneira de emagrecer. Não acreditava quando minha nutricionista fazia todas aquelas medidas e dizia-me que eu estava com uma composição corporal normal. Achava-me gorda e suspeitava que a dieta que ela me dava era muito para mim. Estaria ela me enganando ? Estaria ela enganada ? Acabava de comer, pesava-me e ia fazer exercícios. Meu personal trainer era louco ! Só 40 minutos de corrida ? Fazia 40 minutos com ele we depois mais 40 e pedalava e caminhava. Evitava sexo com meu marido pois tinha que estar em pé muito cedo para correr e treinar. Como eu não vomitava, não me achava bulímica ! Mas o exercício sempre era pouco. Na academia irritava-me se a aula não era daquelas para “queimar calorias”. Se comia uma fruta a mais , claro, da-lhe corrida! Meu emprego ? Deixava de lado se tivesse que almoçar lá ! Queria saber o valor exato das calorias ! E se pusessem óleo demais? Não, não era vida ! Não aceitava convites, pois tinha medo de comer e engordar. Aos finais de semana era uma tortura, pois meu marido queria atenção e eu fazia um triatlo inteiro e ainda caminhava à noite. Machucava-me inúmeras vezes e tomava antiinflamatórios para poder treinar sem dor. Várias vezes não agüentava de cansaço e tomava anfetamina para reanimar. Não queria e não podia parar de treinar. A sensação que eu tinha era a de que engordaria muito, mas muito mesmo. Sempre tinha episódios de comer, autênticas orgias, que começavam quando eu fazia a primeira concessão a u, brigadeiro que fosse. Sentia-me sem controle nenhum, aí comia o que tivesse pela frente. Doce, salgado, sem prazer, escondida, com um ódio enorme de mim mesma, até empanturrar-me ! Aí, olhava-me no espelho ! A barriga enorme ! Odiava quando meu marido dizia que eu era “linda”. Parecia gozação dele…Se me olhavam na rua, achava que era para reparar que eu era gorda. Ia de médico, de preferência até aqueles mais “loucos”, que mal examinavam, davam uma fórmula e pronto. Outras vezes filava de alguma amiga o remédio dela. Um dia tive uma sensação horrível! Meu coração, sem mais nem menos, parecia que ia sair pela boca, minha respiração tornava-se ofegante, sufocante, eu tremia inteira, tinha tontura, dor no peito e achei que fosse ter um enfarte.
Meu marido assustou-se e fomos a um pronto socorro. Aquilo passou no meio do caminho, o médico examinou e disse que era nervoso. Fiquei em observação e voltando para casa comecei a imaginar que não era nada demais mesmo. Voltei a fazer tudo o que eu fazia e… tive aquilo de novo. Me deu mais forte e eu agora ficara com um medo terrível de ter aquele treco outra vez. O médico disse que era pânico e mandou-me a um neurologista que medicou-me com um remédio e, claro, eu morria de medo de engordar e de ter aquilo de novo. Numa palestra sobre psicologia em que acompanhei meu marido ouvi acerca de “Compulsão Alimentar”. Resolvi procurar ajuda e além do antidepressivo encarei uma psicoterapia. O pânico já melhorava, mas o medo de ter pânico…esse ainda não. Na terapia encarei uma barra e passei a perceber que as drogas que eu tomara, o stress a que eu me impunha pelo emagrecimento poderia ter desencadeado a primeira crise de pânico. Lentamente fui mudando hábitos, inclusive em relação aos exercícios. Faço bastante, mas estou aprendendo a respeitar meus limites. Corro, mas seguindo orientação de um personal e de meu terapeuta que insiste no “prazer” do exercício, na moderação e no respeito a meu biótipo. Confesso que ainda sinto-me culpada ! Mas bem menos…Deixei os remédios, menos o antidepressivo e estou fazendo um trabalho de autoimagem com meu psicólogo. Modificando não só como eu de fato sou, mas como me percebo! “ Minha vida sexual está melhorando e eu já penso em ter um filho, tão sonhado pelo meu marido e tão temido por mim, devido ao medo de engordar”. Só lamento que precisei ter pânico para encarar um tratamento. Sei que é assim mesmo. A gente não se sente doente. Sente-se gorda. Não vou mentir, ainda me acho um pouquinho fora da tabela…Ás vezes pinta umas neuras em relação ao corpo ideal ! Mas eu não poderia continuar vivendo daquela maneira … Teria um fim muito triste!”
D.G 25 anos.