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Lipofobia: gordura imaginária

“O que eu faço quando me dá aquela vontade de comer e assaltar a geladeira ?”
Com certeza, essa é uma das perguntas mais freqüentes que ouvimos de um paciente que precisa emagrecer. Tudo ia bem, a dieta era personalizada, agradável, aí…aquela vontade apareceu, si lá de onde e…lá se foi mais uma dieta…O que fazer ? Existem “dicas” práticas para quando estivermos diante “dela”?

Controlar essa vontade é adquirir a capacidade de escolha de formas de comportamentos alternativos ao comportamento de comer. Não se trata de “forçar” a pessoa a não comer, mas desenvolver-lhe a capacidade de escolha. Ela irá seguir ou não o impulso. Escolherá entre uma gratificação imediata, comer, e uma recompensa a médio prazo, ser magra e saudável. O autocontrole desta vontade “irrefreável” de comer visa desenvolver a resistência à tentação e a persistência frente à adversidade. É A COMIDA QUE A CONTROLA? VAMOS INVERTER , CONTROLAR A COMIDA e EMAGRECER ??? A PRIMEIRA DICA É : GANHE TEMPO !! COLOQUE ALGUMA ETAPA, TAREFA, ATIVIDADE PRAZEIROSA ENTRE O IMPULSO E A RESPOSTA!!! Exemplo : Márcia tem 19 anos e é bastante hábil em artes plásticas. Diz que quando trabalha com argila ou pintura “esquece da vida”. Porque não ir direto para seu atelier tão logo sinta !”vontade de comer”?

A “vontade de comer” é uma reação automática, não refletida ou “raciocinada”. Quem a tem, tão logo se sinta ansioso, irá para a comida como sendo a única opção, sem pensar, como fazemos quando dirigimos um carro. Realizamos trocas de marchas, aceleramos e freamos “sem pensar”.
É um hábito interiorizado, adquirido e utilizado automaticamente, como quando nos utilizamos as regras gramaticais para nos expressarmos corretamente, sem pensar que elas existem.Para que haja o “descondicionamento” deste hábito ele deverá ser decomposto em etapas. O objetivo deverá ser levar a pessoa a raciocinar “dentro” do processo e não após e atuar de forma a antagonizá-lo. De outra maneira, o controle da vontade de comer é conseguido tornando conscientes para a pessoa esses dados até então automáticos.
Para tanto é necessário que se entenda as etapas do processo de autocontrole. Antes de qualquer coisa deverá compreender que o “desmanche” de um hábito arraigado há muito tempo requer paciência, perseverança e TEMPO. Estudos recentes realizados com universitárias revela que 100% das estudantes estão descontentes com o próprio peso! Quase todas almejam perder peso e, mesmo entre as subnutridas, apenas 15% desejam ganhar peso!

Levantamento semelhante foi feito nos E.U.A. cerca de dez anos atrás e números, já impressionantes, revelavam que 53% das meninas até 13 anos estavam insatisfeitas com o próprio corpo e que esse número ascendia a 78% dos 18 anos em diante.

O que era maioria tornou-se totalidade ! Pior, mesmo as meninas muito magras almejavam um “peso estético” que, se atingido, as colocaria na condição de subnutridas (IMC igual ou inferior a 18) .
Estudos da Associação Americana de Medicina revelam que as Misses de 1970 para cá seriam classificadas como subnutridas.

Um levantamento levado a efeito em Pelotas revela que 30% das adolescentes de 12- 15 anos apresentavam comportamentos chamados precursores de transtornos alimentares.
Os padrões estéticos passados pela mídia, passarelas, academias e pela publicidade em geral, impondo uma “beleza magra” poderiam ter contaminado coletivamente a sociedade, levando-a a conceituação de uma “imagem estética inadequada e inviável” e só possível numa minoria de mulheres que, possuidoras deste padrão, deveriam estar “satisfeitas”, fosse a felicidade a consecução destes objetivos.
Estou realizando levantamento nesta população dita “privilegiada” que engloba modelos em geral que, supostamente, ditam estes padrões ou são nomeadas para fazê-lo. Entre elas as modelos que fazem trabalho de corpo, que fazem da perfeição física, da sensualidade o seu diferencial e que aparecem em fotos, comerciais e desfiles esbanjando beleza, curvas, charme e insinuando perfeição física em lingerie, biquínis etc. Da mesma forma que as não modelos, apresentam 100% de insatisfação (e já entrevistei perto de 100 modelos nesta pesquisa!) com o próprio corpo! Isto mesmo ! A mulher escultural do  comercial , desejada, invejada, tida como paradigma ESTÁ IGUALMENTE INSATISFEITA ! Quer perder em média 3 quilos !

Então não se trata de uma questão de imagem, mas algo muito mais ligado à auto-imagem! Uma alteração coletiva da percepção do próprio corpo, comum em “feias” e “bonitas”, diante da qual todas se insurgem da mesma e perigosa forma: PERDA DE PESO INDISCRIMINADA NA BUSCA DE UM IDEAL ABSTRATO, ILÓGICO, DESVINCULADO DA PRÓPRIA INDIVIDUALIDADE!

Proliferam jejuns, todos os tipos de ”regimes” , medicamentos, preocupações, culpas, exercícios feitos de forma compulsiva, anabolizantes, crenças absurdas na maleabilidade absoluta da forma do corpo. O corpo é arduamente cultivado,pouco respeitado e não usufruído !

Parece que estamos diante de um novo quadro clínico, uma “síndrome sócio cultural” : a “LIPOFOBIA”, um medo absurdo e irracional da gordura imaginária, que vai beirando ao terror! Cada vez mais a beleza se desvincula do biotipo e principalmente da saúde. Um ideal e, como tal, inatingível. Algo como um fim em si própria, buscada de forma cega.

De um lado, em decorrência desta busca, aumentam as doenças relacionadas à auto imagem como Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, desencadeadas por tentativas mal sucedidas de curar uma obesidade muitas vezes imaginária, mas temida e irreal! Por outro a verdadeira obesidade e o sobrepeso insistem em desafiar nossa competência, apresentando índices mundiais preocupantemente crescentes.